8.10.19

Terceiro módulo da Rosa Parks em 2019


Na manhã do sábado 05/10/2019, a Escola Ecumênica de Fé e Política Rosa Parks realizou, na sede da Igreja Batista do Pinheiro, o terceiro módulo do curso de formação, tendo como facilitadores professores Cícero Albuquerque e Antônio de Pádua Camelo (Tico), que abordaram durante toda a manhã o tema HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS.

Nosso terceiro módulo contou com a participação de um número superior a 15 pessoas inscritas, entre membros da IBP, irmãos católicos, agnósticos, lideranças políticas e organismos sociais que buscavam mergulhar nos ideais trazidos pelos movimentos sociais, nacionais ou mundiais.

Os movimentos sociais só existem porque algo não está bem, professor Cícero Albuquerque.

18.9.19

III Módulo


A Escola de Fé e Política Rosa Parks estará realizando seu III módulo, com o tema: HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES SOCIAIS.

Nosso facilitador na ocasião será o Professor CÍCERO FERREIRA DE ALBUQUERQUE, da Universidade Federal de Alagoas. Cícero é graduado em história, mestre em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco e doutor em ciências sociais pela Universidade Federal de Campina Grande.

O investimento é de apenas R$ 20,00. As inscrições podem ser feitas no dia do evento que ocorrerá na Igreja Batista do Pinheiro localizada na rua Miguel Palmeira, 1.300, Pinheiro, Maceió/ AL. Contato pelos celulares: 9.8885-2096 e 9.9620-8218

3.6.19

Quando Dizemos “Deus”...


A Bíblia é um “clássico” da humanidade. Na verdade, como qualquer obra clássica, surge de um povo e de contextos histórico-sociais bem determinados, mas tem a capacidade de alcançar raízes profundas do fenômeno humano e, assim, se faz contemporânea de todas as gerações, por revelar estruturas constitutivas da íntima realidade antropológica e da convivência humana. Explicita continuamente algo permanente acerca dos conflitos internos das pessoas, das relações entre elas e das estruturas de convivência. O que subjaz a tudo isso é o conflito profundo entre Liberdade e Opressão, em outras palavras, entre Amor, dimensão constitutiva da Pessoa, e Exclusão, que fecha a pessoa em sua condição de indivíduo. De fato, na raiz desse conflito, está a experiência do Poder, experiência radical (de raiz), o “locus” onde se toca Deus na vida humana, o “ponto Deus” em nós.

A Bíblia aborda o tema mediante alguns símbolos muito expressivos. Primeiro, a convicção de que Deus é invisível. Daí, decorrem os mandamentos de adorar um único Deus, não fazer imagens da divindade, não instrumentalizar Seu Nome, como se faz com os ídolos “vãos” e celebrar o Dia do Descanso como dia da libertação do cativeiro e dia da liberdade humana sobre as próprias obras (cf. Dt 5, 6-15; Ex 20, 3-11; Ex 32, 1-6). O Deus invisível já se manifesta desde a Criação na imagem por Ele mesmo estabelecida, o homem e a mulher (cf. Gn 1, 26), as duas expressões complementares do mesmo ser humano, a saber, o ser feito do húmus, da argila da terra, Adam é o ser Terrestre e é plural (cf. Gn 1, 27). Intimamente vinculado à Terra, a ponto de ser considerado o masculino (Adam) em íntima comunhão com todos os seres terrestres que compõem o elemento feminino, ou seja, Adamah (cf. Gn 1, 28-31); do mesmo modo como se dá  num casamento entre o homem enquanto marido (“ix”) e a mulher (“ixah”), ambos sendo o mesmo em sua forma masculina e feminina (cf. Gn 2, 23). “Adam” expressa o parentesco com o húmus da terra, a qual deve, amorosamente, ”cultivar e guardar” (cf. Gn 2, 7-15); “Hayah” (Eva) é a fonte e expressão da Vida, aquela que pode pôr-se “frente a frente” diante de Adam, “carne de sua carne e ossos de seus ossos” (cf. Gn 2, 18-25). Portanto, excluem-se a pluralidade de deuses e a necessidade de imagens, pois no homem e na mulher os traços divinos já estão indelevelmente impressos, aí é que Deus Se revela.

Outro símbolo significativo é a impossibilidade de ver a face de Deus. Nem Moisés pode vê-Lo (cf. Ex 33, 18-23), mesmo que se chegue a dizer que com ele Deus conversa como com um amigo (cf. Ex 33, 11). O mesmo se dá com Elias, o grande profeta, defensor da honra de Deus (cf. 1Rs 19, 13). Mesmo assim, Moisés, o grande libertador, enviado para assumir o papel da liderança divina em favor do povo, sente necessidade de conhecer Seu Nome, a saber, “apoderar-se” da identidade divina para invocá-La e poder contar com Ela na quase impossível empresa para a qual se sente convocado. Mas Deus não cede a suas pretensões, simplesmente lhe diz “Eu Sou o que Sou”. O mesmo que dizer: “Eu Estou como Estou”, ou “Eu estarei aí”, presente, “Eu estarei contigo” (cf. Ex 3, 11-15). Tudo isso significa que a presença divina se revela na experiência humana histórica da liberdade (cf. Ex 32, 1): o Mistério transcendente será objeto de experiência, não diretamente de “conhecimento”, será experimentado como experiência de salvação (vale a pena ler o livro de Isaías a partir do capítulo 40). O nome divino YHWH pode, na origem, estar ligado ao fenômeno da tempestade e do vento, o que aparece em certos textos bíblicos onde se fala de Deus como “Espírito”, sopro, vendaval, vento, brisa.... Isto sugere a experiência de manifestação quase sem forma física, sem poder ser apalpada nem mesmo vista, como se dá na visão a Elias (cf. 1Rs 19, 9-13). Revela-Se em nós e entre nós, como dimensão que provoca em nós uma maneira divina de ser. Em nós é que experimentamos Deus. Fora disso, caímos no campo do imaginário, imaginação que se pode degradar a “alienação”. A partir do século III, prevaleceu, no povo judeu, o costume de não pronunciar o Nome divino, uma maneira de guardar o Mistério nele contido.

Deus não se mostra em Si mesmo, a Bíblia é enfática em ressaltar que não Se deixa ver, Sua voz é que se escuta nas circunstâncias da vida, sim, a Vida fala, é Palavra que nos convoca a atuar em Seu Nome e a agir como Ele. Para isso é que nos envia, como vemos repetidamente nos episódios de vocação (cf. 1Rs 19; Is 6; Jr 1; Ez 1-3; Is 42; 49; 50; 52-53).

Em estranhos encontros com Moisés (cf. Ex 4, 24-26) e com  Jacó (cf. Gn 32, 23-32), dá-se algo muito sugestivo, o que se vê também nas histórias de Abraão e de Ló. É clara a ameaça à vida, e a salvação corresponde a passar para nova compreensão do caminho do viver, algo como depois Paulo vai interpretar o batismo, processo de iniciação à fé, de morte e ressurreição com Cristo (cf. Rm 6) e João vai falar do amor como a decisiva “passagem da morte para a vida”. Em última análise, trata-se de passar a nova compreensão do Caminhar com Deus, caminho perigoso, análogo a “passar da morte para a vida”, como confessam (e até se queixam) os profetas, particularmente Jeremias. A grande reviravolta que transformou a vida de Saulo de Tarso se caracteriza justamente como evento de morte: ser derrubado no caminho, tornar-se cego e mergulhar na escuridão como efeito de insuportável claridade. Era preciso que chegasse a perceber a presença do Messias de Deus na face das pessoas que desprezava e perseguia como inimigas mortais (“Por que Me persegues?”). E ainda se acrescenta que é justamente dessas pessoas que lhe vem o auxílio para “recuperar a visão”, deixando que “escamas lhe caiam dos olhos” (cf. At 9).     

A corrente joanina reflete profundamente sobre este tema. Ao contemplarem em Jesus uma nova e surpreendente humanidade, os discípulos espontaneamente Lhe pedem: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”. A resposta de Jesus é imediata: “Há tanto tempo estou convosco e tu não me conheces? Quem me vê, vê o Pai. Como podes dizer: “Mostra-nos o Pai!”? Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim?” (Jo 14, 8-10). Imediatamente antes, Jesus é apresentado a dizer: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. Se me conheceis também conhecereis meu Pai. Desde agora O conheceis e O vistes” (Jo 14, 6-7). Ou seja, é pela humanidade de Jesus que Deus manifesta a Si mesmo: “Ninguém jamais viu a Deus, o Filho unigênito que está no seio do Pai, este O deu a conhecer” (Jo 1, 18; 1Jo 4, 12). Na Primeira Carta, atribuída a São João, aprofunda-se e concretiza-se ainda mais o tema: “Nisto são reconhecíveis os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo o que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão” (3, 10). “Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. Nós sabemos bem que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos” (3, 13-14). E a mesma reflexão pervade todo o capítulo. E chegamos ao ponto alto quando se afirma: “Todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece (por experiência) a Deus, porque Deus é amor”. E é sintomático que se dê como exemplo do amor aquilo que para nós se situa no campo da “Economia”, a questão da posse de bens: “Se alguém possuindo os bens deste mundo, vê seu irmão na necessidade e lhe fecha as entranhas (coração), como permanecerá nele o amor de Deus?” (17). Deus está em nós mediante Seu Espírito que nos torna semelhantes a Ele (cf. 4, 3-6; Mt 5, 48: “Portanto, deveis ser perfeitos(as) como vosso Pai celeste é perfeito). Outro ponto culminante do texto é: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso, pois quem não ama o seu irmão a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar” (4, 20). Tudo isto porque “ninguém jamais contemplou a Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o Seu amor em nós é realizado” (4, 12).

Dizia-se acima que o “ponto Deus” em nós se dá na experiência do poder. O que é o poder? O poder não é simplesmente algo que temos, como se fosse uma determinada qualidade entre outras. Na verdade, o poder somos nós enquanto seres possíveis, de possibilidades, de potência, de potestade, de posse... em outras palavras, poder é nossa capacidade de ser, que se concretiza nas capacidades que nos formam e nos possibilitam agir para afirmar a nós mesmos(as) e tomar posse do mundo, ou seja, cada qual de nós busca tomar nas próprias mãos a existência para afirmar-se como “ser em si”, possuir-se a si mesmo(a), não permitindo que outros(as) nos possuam em função de si, o que seria reduzir-nos a coisas.  Essa experiência, de “ser capaz” ou possível, nos projeta por sobre a realidade da vida e do mundo e, assim, nos sentimos como “centro” em torno do qual a totalidade parece girar. Ora, não demoramos a perceber que todos os seres humanos têm a mesma experiência. Quer dizer, há uma infinidade de centros e cada qual de nós tem de achar o seu lugar, nunca absoluto, sempre relativo e precário. Essa experiência, de fato, pode tomar duas direções opostas: ou a afirmação de si para si (fechamento) ou abrir-se à grandiosa totalidade dos seres da Natureza, à universalidade das Pessoas e ao horizonte do Futuro.

Ao fechar-se para si mesmo, o ser humano, longe de alcançar plenitude,  de fato, comporta-se como criança temerosa que se apossa do brinquedo (da vida) e recusa-se a compartilhá-lo, submete-se às ilusões que brotam dos próprios sonhos e caprichos infantis e reduz seu horizonte de vida a “obedecer” a pulsões imediatas e mesquinhas que tendem a isolá-lo (tornar-se “isola”, ilha) da realidade maior que o cerca e que é o verdadeiro caminho para ter a chance de libertar-se. Na verdade, isso se explica pelo medo de ser roubado de si, pela insegurança quanto ao próprio lugar no mundo, sintoma de imaturidade. Se, ao contrário, se abre à totalidade, a afirmação de si se dá ao ir além de si, ultrapassar-se, transcender-se. Não é outra coisa, senão o que chamamos de Liberdade, pois é por ela que nos projetamos sem medo para além de nós, dando-se, assim, a coincidência entre Amor (entrega) e Liberdade (poder, posse de si).

Em outras palavras, na experiência da Liberdade, Deus, a Transcendência, se manifesta entre nós e em nós, como dimensão libertadora e por isso humanizadora. Nossa imagem de Deus deve superar toda representação de um “ente” diante ou acima de nós, mas, como se diz em Atos dos Apóstolos: “N’Ele vivemos, nos movemos, e somos” (At 17, 28), como mergulhados(as) em imenso oceano. Não é fácil nem conatural, porém, seguir a direção indicada pelas Escrituras. Sempre tentamos dar um rosto a essa experiência e somos levados(as) a imaginar Deus como uma pessoa, já que a pessoa é o mais alto que se pode conceber, por ser “o que há de mais excelente em toda a ordem da Natureza”, como dizia Santo Tomás de Aquino. E ainda acrescenta dizendo o seguinte: o universo se explica mais facilmente se admitimos que Deus existe, que Ele é. Daí, elaborou as chamadas “vias” para chegar à probabilidade da existência de Deus. Aliás, em sintonia com isso, temos hoje a profunda admiração de famosos nomes da Física quando, ao observarem o conjunto da realidade, embora, aparentemente, os processos se deem por acaso, na verdade, porém, se encantam com a incrível racionalidade que parece presidir o ritmo da Natureza. Entretanto, dizia Santo Tomás, quanto ao que Deus é, a saber, como Ele é em Si mesmo, nada sabemos a não ser por experiência íntima.

Ora, vimos que as Escrituras excluem ceder a essa tentação de dar a Deus um rosto. Proíbem qualquer “imagem”, pois seria sempre idolatria, projeção de nosso próprio rosto (cf. Sb 13-15). A indicação que temos é de contemplar a Deus (o Mistério da Vida) nos traços do rosto de Jesus e nos pobres (cf. Mt 25, 31-46). Não é, porém, fácil e conatural seguir a direção indicada pela Bíblia. Mas, de fato, é a partir desse sólido fundamento na história e na vida, que se estabelece a Comunhão. Segundo Jesus, no serviço e no perdão recíprocos  e na partilha, como se vê nos diálogos que se dão na última subida a Jerusalém, quando só se trata do serviço (o verdadeiro poder exercido mediante a entrega das própria capacidades) e da partilha, poder exercido mediante a posse comum das coisas (cf. Mc 8, 22 – 10, 52). Logo no início do Caminho, há como que um resumo de tudo: “Quem quiser salvar (guardar para si) a própria vida, a perderá; mas quem perder (entregar) sua vida, por causa de mim e do Evangelho, a salvará. Com efeito, que aproveita a alguém ganhar o mundo inteiro e arruinar sua própria vida?” (Mc 8, 35-36). Dito que revela fina percepção do estrato mais profundo do psiquismo humano...

Se o “locus” da Revelação de Deus é o poder (a encruzilhada entre entrega de si ou dominação), isto significa que aí está também o “lugar” da comunhão. Na verdade, o poder real, autêntico, é o que está carregado de “autoridade”. Como dizia Margareth Tatcher, ex-primeira ministra do Reino Unido: “O poder é como uma dama, se precisa dizer que é, já não é”. Não tem necessidade de impor-se, de afirmar-se de fora, pois poder equivale a potência de ser, isto é, capacidade e possibilidade de ser. Já foi lembrada a família do vocabulário do poder: potência, potestade, possível, possibilidade, posse... É ser “auctor”, capacidade de “fazer crescer” (verbo “augere”, em latim), possibilidade de ser mais. É ser construtor(a) de si mesmo(a) e edificador(a) de outras pessoas e do mundo em redor. É empoderar-se e empoderar; mediante as relações, ser capaz de transbordar capacidade de ser em torno de si, irradiar e promover poder: “Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em Mim fará as obras que faço e fará até maiores do que estas, porque vou para o Pai” ( Jo 14, 12).

Notemos que Jesus nunca diz: “Meu poder te curou”, mas “tua fé te salvou”. Assim, devolve à outra pessoa seu papel de sujeito, de “autor” da própria transformação. Ter necessidade de impor, ordenar, mandar, coagir é sempre sinal de fraqueza, imperfeição do poder, incapacidade de influenciar por dinamismo de irradiação criativa. É sinal de relação humana inconclusa, precária, frágil. É isto o que distingue o que é mero (e frágil) poder legal e o que é de fato poder real, o que se chama de capacidade/possibilidade de liderar, de atrair, de encantar, de chamar a seguir, como, por exemplo, se dá com Jesus que é capaz de convencer, por Sua autoridade moral, esta, sim, o verdadeiro poder: “Senhor, a quem iremos, só Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 5, 68; cf. Jo 1, 35-39).

Jesus é antropologicamente radical quando ensina que quem é realmente primeiro não teme comportar-se como último, não hesita em servir e partilhar, ou seja, oferecer a vida (o que se é e o que se tem) em favor das demais pessoas (cf. Jo 10,10; Mc 8, 34-38; 9, 33-37; 10, 35-45); nisto é que se revela o autêntico poder, quando a pessoa chega a tal posse de si mesma que se oferece totalmente sem medo de perder-se. Na verdade, só se entrega quem se possui. Note-se que não estamos no nível de “preceito moral”, mas no nível antropológico, constitutivo do ser pessoa mediante a liberdade. “O sentido da vida são as outras pessoas”, proclamava o poeta Ferreira Goulart.

Conclusão: A idolatria e o Deus vivo. O ser humano é, por essência,  material, concreto, particular, “individual”. Essa condição se reflete na relação com realidades transcendentes, pois a tendência é imaginá-las à semelhança de algo palpável. Só podemos conceber realidades espirituais por abstração ou por analogia. O comportamento mais comum, porém, é “representá-las” imaginativamente como “algo” ou “alguém”, o que, evidentemente não é adequado. É nisso que está a raiz das imagens de Deus que construímos. Sempre projetamos nelas nossas experiências no mundo, necessariamente marcadas pela materialidade e a contingência. Temos de levar em conta esta nossa condição, mas é preciso esforçar-se por ir além dela.

Na verdade, pela “via projetiva” é impossível alcançar Deus, pois não é “efeito” ou “produto”, antes, “causa última” da realidade. Por isso, só se revela pela potência que difunde em todas as coisas, uma vez que todas as “causas segundas” d’Ele derivam por “participação” em Seu ser, como ensina Santo Tomás.

Esta é a razão mais profunda pela qual as Escrituras proíbem construir “imagens”. Deus não se revela como “algo” ou mesmo “alguém”. Nós o experimentamos como dimensão presente em nós e entre nós que nos arrasta para além de nós, e é imprescindível para nosso processo de humanização, como vimos na Primeira Carta de São João. Ou O assimilamos e nos tornamos semelhantes a Ele, ou nos fechamos num círculo diabólico que nos leva a matar e morrer (cf. 1Jo 2, 12-17; 3, 11-15).

Como vimos, a partir da altura de nossa condição de “pessoa”, imaginamos ou postulamos que Deus seja tido como realidade “pessoal”. A Bíblia aponta para Jesus e para os pobres, neles é que transparece Seu rosto, uma maneira concreta de dizer que Deus Se revela sempre mediante a realidade de Outro(a), mediação da transcendência, chamado a irmos além de nós, via obrigatória para o reconhecimento de nós mesmos(as), pois só Se revela em nós e entre nós. Assim, é mediante as relações entre nós que se nos revela Sua presença: “Deus é amor e quem ama conhece (por experiência) Deus”. Dom Helder Camara sempre dizia com plena convicção que nos pobres tocamos “o Cristo vivo”, passamos além dos símbolos e alcançamos o conteúdo da fé. O mesmo que percebemos hoje nos gestos e nas palavras desse outro grande homem que é o Papa Francisco. 

Esta não é simplesmente uma questão “religiosa”, é, na verdade, a questão axial da vida humana, a questão antropológica radical, a referência absoluta. Só é possível tornar-se humano(a) quando se está em Deus, independentemente de crença religiosa. Não se trata de “saber”, trata-se de “ser”. O Evangelho o declara quando diz que a “relação” é a medida do julgamento inapelável ( cf. Mt 25, 31-46). Justamente porque são as relações com o Universo, com as outras pessoas e com o Futuro que constituem nossa “pessoalidade”, nossa identidade. O Pobre é particularmente o Outro a ser “afirmado”. Daí seu privilégio enquanto imagem de Deus, já que o Outro é a concreta e imediata irrupção da Transcendência e, por isso, o apelo a cada pessoa a projetar-se para além de si mesma. O Deus vivo e verdadeiro não se revela como um “determinado” Deus  em oposição a “outros” deuses, que possa ser configurado com traços bem determinados, como se fosse mais excelso entre todos os outros “entes”, isto é, todos os outros seres. Ora, é Ele a causa última que perpassa e ultrapassa a totalidade dos seres, para aquém do Princípio e para além do Fim. A função clássica da chamada Teologia Negativa é justamente esta, derrubar todas as imagens que construímos de Deus, não para construir, em seu lugar, outra imagem que seria “verdadeira e autêntica”, não, trata-se de destruir todas as imagens (doutrinas, rituais, instituições religiosas...), pois todas elas estão sempre contaminadas pela projeção de nosso próprio rosto, fruto de nosso “desejo”. Em tudo o que imaginamos e dizemos de Deus há sempre o germe da idolatria, o vazio e a mentira dos ídolos, como já advertiam os profetas. “Deus é sempre maior” e só transparece mais plenamente no amor maior...                   



Dom Sebastião Armando Gameleira Soares
Bispo da Igreja Anglicana

Emanuel

Deus-Conosco

Nem algo, nem alguém
nem aqui, nem ali
TUDO, porém
dentro e fora
o mais alto que se possa imaginar
o mais íntimo que se possa sentir
em mim e em ti

presente
sempre
como as pessoas umas nas outras
poderoso como o amor
frágil como na dor
“oceano onde nos mover
viver e ser” (At 17, 28)

corrente que arrasta
como o Vento
sempre
mais além
n’Ele somos
só quando para nós
já não somos.  

Seu rosto
“ninguém jamais viu” (Jo 1, 18)
todos os retratos
são falsos
Sua imagem
só revela seus traços
na desfigurada face de Jesus
ao longo do Caminhar (At 9, 2.4-5)
em busca de os pobres encontrar (cf. Mt 25, 31-46)
Ele
sempre
mendigo como nós
conosco
entre nós e em nós.

(Quase-poema dedicado aos/às participantes das Escolas de Fé e Política)

Natal, 14. Abril. 2018

Dom Sebastião Armando

2.6.19

Rosa Parks realiza segundo módulo



Dom Sebastião Gameleira e presentes ao módulo
Nos dias 31 de maio e 01 de junho, no templo da Igreja Batista do Pinheiro a Escola Ecumênica de Fé e Política Rosa Parks, com uma média de 15 participantes nos dois dias, realizou seu segundo módulo em 2019, abordando o tema: Fé, teologia e política. Nosso facilitador convidado foi o bispo emérito da Igreja Anglicana do Brasil, Dom Sebastião Armando Gameleira, alagoano de coração, mas que atualmente reside em Caruaru/ PE.

"Foi um tempo principalmente de oxigenação da fé", como bem falou o Pr. Vando, um dos coordenadores da escola, missionário da Congregação na Comunidade da Alegria e membro da Igreja Batista do Pinheiro.

Ao menos quatro comunidades de fé foram atingidas neste segundo módulo, com líderes enviados. Comunidades reformadas e católicas.

Agradecemos a todos os que se envolveram de um jeito ou de outro para que nosso módulo fosse realizado.

Agradecemos a Deus pela vida de  Dom Sebastião Armando Gameleira, pela disponibilidade e amor ao movimento de fé e política.

Paz e bem!


















31.5.19


É hojeeeeeeeee!

Nosso segundo módulo se inicia logo mais à noite. Lembramos que as inscrições podem ser confirmadas na abertura do evento, a partir das 18:30h na Igreja Batista do Pinheiro (Rua Miguel Palmeira, 1300, Pinheiro).
Nosso facilitador Dom Sebastião Armando Gameleira já se encontra em Maceió.
Confirme, então, sua inscrição, participe de nosso coffee break e aproveite.

Escola Ecumênica de Fé e Política Rosa Parks

25.4.19

Segundo módulo 2019 da Escola Rosa Parks de Fé e Política é lançado para inscrição


Olá irmãs e irmãos, segue o link para pré-inscrição no nosso II Módulo da Escola Ecumênica de Fé e Política Rosa Parks. Nosso tema será Fé, Teologia e Política, e receberemos como facilitador o Frei Sebastião Armando Gameleira que é Bispo Emérito da Igreja Anglicana. Nossas vagas estão limitadas a 40 pessoas, ao custo de R$ 30,00 por pessoa, e este valor dá direito a participação presencial nas palestras, compartilhar todas as refeições e material do congresso.  Faça sua pré-inscrição aqui: ou pelo telefones/ whats app: 82.9-8885-2096 (Pr. Vando) e 82.9-9620-8218 (Iolanda).


Faça sua pré-inscrição aqui

24.4.19

Carta Aberta ao querido Irmão Julio Lancellotti

Caro Irmão Julio Lancellotti,

“Contudo, alegrai-vos por serdes participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também vos alegreis e exulteis na revelação da sua glória.” (I Pedro 4.13)

Nós, evangélicas e evangélicos abaixo assinadas/os, representadas/os pelas organizações em que militamos pelo Evangelho de Cristo, nos solidarizamos com você, caro Irmão, por conta das constantes ameaças que tem sofrido por sua atuação, principalmente em função da Pastoral de Rua e na defesa dos Direitos Humanos daqueles que são constantemente oprimidos nas ruas da maior capital do nosso País: São Paulo.

Reconhecemos nas suas ações a ação do Cristo, o pobre de Nazaré, marginalizado e amigo de marginais, o periférico que andou e amou os excluídos da sociedade.

Nos juntamos em oração e apoio, em força e graça nesse momento de perseguição, na certeza de que sobre você, amado irmão, está a bem-aventurança declarada por nosso mestre:
“Abençoados são vocês, cujo compromisso com Deus atrai perseguição. A perseguição os fará avançar cada vez mais no Reino de Deus.
E isso não é tudo. Considerem-se abençoados sempre que forem agredidos, expulsos ou caluniados para me desacreditar. Isso significa que a verdade está perto de vocês o suficiente para os consolar – consolo que os outros não têm.” (Mateus 5.10-11 – A Mensagem)

Juntas e juntos, na fé que nos move em direção ao outro,

Brasil, 23 de Abril de 2019


1 - Movimento Negro Evangélico
2 - Coletivo Vozes Marias
3 - Evangélicas pela Igualdade de Gênero
4 - Evangélicos Pela Justiça
5 - Banho Solidário - Maceió
6 - Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro
7 - Jesus Cura a Homofobia
8 - Comunidade Anglicana Redenção - Vitória/ES.
9 - Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
10 - Igreja Batista Nazareth - Salvador - BA
11 - Rede Curviana
12 - Igreja Batista do Pinheiro - Maceió/AL.
13 - Comunidade Batista do Caminho - Belo Horizonte/MG
14 - Aliança de Batistas do Brasil
15 - Movimento de Ação e Reflexão Martin Luther King Jr
16 - Evangélicxs Pela Diversidade
17 - Igreja da Comunidade Metropolitana - São Paulo/SP
18 - Associação das Igrejas das Comunidades Metropolitanas do Brasil
19 - Comunidade Cristã Abraça-me - Belém/PA
20 - Communa Refúgio de Amor - São Paulo/SP
21 - Escola Ecumênica de Fé e Política de Maceió Rosa Parks.
22 - Rede Fale
23 - Esperançar
24 - Coluna Féministas do Justificando
25 - Ativismo Protestante
26- Escola de fé e política Willian Wilberforce, Natal
27- Espaço comunitário pé no chão, Natal

22.4.19

O marxismo não é mais útil

O papa Bento XVI tem razão: o marxismo não é mais útil. Sim, o marxismo conforme muitos na Igreja Católica o entendem: uma ideologia ateísta, que justificou os crimes de Stalin e as barbaridades da revolução cultural chinesa. Aceitar que o marxismo conforme a ótica de Ratzinger é o mesmo marxismo conforme a ótica de Marx seria como identificar catolicismo com Inquisição. Poder-se-ia dizer hoje: o catolicismo não é mais útil. Porque já não se justifica enviar mulheres tidas como bruxas à fogueira nem torturar suspeitos de heresia. Ora, felizmente o catolicismo não pode ser identificado com a Inquisição, nem com a pedofilia de padres e bispos.

Do mesmo modo, o marxismo não se confunde com os marxistas que o utilizaram para disseminar o medo, o terror, e sufocar a liberdade religiosa. Há que voltar a Marx para saber o que é marxismo; assim como há que retornar aos Evangelhos e a Jesus para saber o que é cristianismo, e a Francisco de Assis para saber o que é catolicismo.

Ao longo da história, em nome das mais belas palavras foram cometidos os mais horrendos crimes. Em nome da democracia, os EUA se apoderaram de Porto Rico e da base cubana de Guantánamo. Em nome do progresso, países da Europa Ocidental colonizaram povos africanos e deixaram ali um rastro de miséria. Em nome da liberdade, a rainha Vitória, do Reino Unido, promoveu na China a devastadora Guerra do Ópio. Em nome da paz, a Casa Branca cometeu o mais ousado e genocida ato terrorista de toda a história: as bombas atômicas sobre as populações de Hiroshima e Nagasaki. Em nome da liberdade, os EUA implantaram, em quase toda a América Latina, ditaduras sanguinárias ao longo de três décadas (1960-1980).

O marxismo é um método de análise da realidade. E, mais do que nunca, útil para se compreender a atual crise do capitalismo. O capitalismo, sim, já não é útil, pois promoveu a mais acentuada desigualdade social entre a população do mundo; apoderou-se de riquezas naturais de outros povos; desenvolveu sua face imperialista e monopolista; centrou o equilíbrio do mundo em arsenais nucleares; e disseminou a ideologia neoliberal, que reduz o ser humano a mero consumista submisso aos encantos da mercadoria.

Hoje, o capitalismo é hegemônico no mundo. E de 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta, 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecem fome crônica. O capitalismo fracassou para 2/3 da humanidade que não têm acesso a uma vida digna. Onde o cristianismo e o marxismo falam em solidariedade, o capitalismo introduziu a competição; onde falam em cooperação, ele introduziu a concorrência; onde falam em respeito à soberania dos povos, ele introduziu a globocolonização.

A religião não é um método de análise da realidade. O marxismo não é uma religião. A luz que a fé projeta sobre a realidade é, queira ou não o Vaticano, sempre mediatizada por uma ideologia. A ideologia neoliberal, que identifica capitalismo e democracia, hoje impera na consciência de muitos cristãos e os impede de perceber que o capitalismo é intrinsecamente perverso. A Igreja Católica, muitas vezes, é conivente com o capitalismo porque este a cobre de privilégios e lhe franqueia uma liberdade que é negada, pela pobreza, a milhões de seres humanos.

Ora, já está provado que o capitalismo não assegura um futuro digno para a humanidade. Bento XVI o admitiu ao afirmar que devemos buscar novos modelos. O marxismo, ao analisar as contradições e insuficiências do capitalismo, nos abre uma porta de esperança a uma sociedade que os católicos, na celebração eucarística, caracterizam como o mundo em que todos haverão de “partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano”. A isso Marx chamou de socialismo.

O arcebispo católico de Munique, Reinhard Marx lançou, em 2011, um livro intitulado O Capital – um legado a favor da humanidade. A capa contém as mesmas cores e fontes gráficas da primeira edição de O Capital, de Karl Marx, publicada em Hamburgo, em 1867.”Marx não está morto e é preciso levá-lo a sério”, disse o prelado por ocasião do lançamento da obra. “Há que se confrontar com a obra de Karl Marx, que nos ajuda a entender as teorias da acumulação capitalista e o mercantilismo. Isso não significa deixar-se atrair pelas aberrações e atrocidades cometidas em seu nome no século 20″.

O autor do novo O Capital, nomeado cardeal por Bento XVI em novembro de 2010, qualifica de “sociais-éticos” os princípios defendidos em seu livro, critica o capitalismo neoliberal, qualifica a especulação de “selvagem” e “pecado”, e advoga que a economia precisa ser redesenhada segundo normas éticas de uma nova ordem econômica e política.”As regras do jogo devem ter qualidade ética.

Nesse sentido, a doutrina social da Igreja é crítica frente ao capitalismo”, afirma o arcebispo.

O livro se inicia com uma carta de Reinhard Marx a Karl Marx, a quem chama de “querido homônimo”, falecido em 1883. Roga-lhe reconhecer agora seu equívoco quanto à inexistência de Deus. O que sugere, nas entrelinhas, que o autor do Manifesto Comunista se encontra entre os que, do outro lado da vida, desfrutam da visão beatífica de Deus.

             *Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais
               Sugestão de nosso aluno: Nadson

18.3.19

Rosa Parks é homenageada como nome da escola

Rosa Louise McCauley, mais conhecida por Rosa Parks (Tuskegee4 de fevereiro de 1913 –Detroit24 de outubro de 2005), foi escolhida por 27 irmãos votantes, num processo que passou por duas etapas (indicação e votação de nomes), a patronesse da Escola Ecumênica de Fé e Política de Maceió. 

Foram cinco os nomes indicados:

- Reverendo João Dias
- Irmã Rosa Parks
- São Francisco de Assis
- Dom Paulo Evaristo Arns
- Dra. Nise da Silveira

Rosa foi escolhida por  48,1% dos votantes, seguida de Dom Paulo Arns com 22,2%, Rev. João Dias com 18,5%, Nise da Silveira com 7,4% e Francisco de Assis com 3,8%.